quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Verdades e mentiras sobre a vida: crônicas irreais vividas por Brigite

Brigite é uma amiga camarada, mas consolando ela não é grande coisa...

Brigite tentando consolar...

- Brigite, aconteceu uma desgraça!

- O que foi, Marina? Alguém morreu?

- Não, mas vai morrer.

- Quem, criatura, fale logo.

- Eu, Brigite. Vou morrer de amor. O Alcibíades me deixou. Snif!

Muito choro.

- Graças a Deus!

- O que é isso, Brigite? Você é minha amiga ou não é?

- Sou, Marina, e por isso mesmo eu te digo que o tal do Alcibíades já foi tarde.

- Eu vou morrer, Brigite! Snif!

- Não vai não.

- Eu não sei viver sem ele! Snif!

- Sabe sim.

- Eu vou para o interior, morar na barranca de um rio! Snif!

- Não vai não.

- Eu vou... Snif!

- Você vai é parar de chorar e se arrumar porque nós vamos sair.

- Não vou não... Snif!

- Ah! Vai sim. Passo aí em meia hora.

Meia hora depois... Dim Dom (campainha) A porta se abre.

- Marina, você ainda está assim, mulher? E essa escuridão toda? Não pagou a luz?

- Eu não vou, Brigite. Minha vida acabou. Eu não sei viver sem ele. (mais snif!)

- Sabe sim.

- Como é que eu vou me levantar pela manhã, Brigite? Snif!

- Põe um pé no chão e depois o outro. Dá um impulso e levanta. Simples!

- Você e essa sua racionalidade! Você é muito fria, Brigite.

- Não sou não.

- A vida não tem sabor sem ele... Snif!

- Tem sim. Aquele quindim maravilhoso da padaria da Dona Rita continua o mesmo.

- Não seja cínica, Brigite. Respeite a minha dor! (mais snif!)

- Eu respeito, Marina, mas não vou enterrar você por causa daquele galã da terceira idade.

- Tanto tempo investido para nada dar certo... Snif!

- Nada? Como “nada”? Ficou com o cara cinco anos. Namorou, transou, passeou, festejou, viajou e “nada” deu certo? Você queria o quê? Cinco filhos, sogra e papagaio?

- Eu até que aguentaria a sogra. (mais snif!)

- Acende a luz, Marina! Vou acabar quebrando a cabeça neste escuro!

Marina acende a luz! Susto.

- Cruz-credo, mulher! Vá pentear o cabelo. Tá pior que a loira do banheiro!

- Pra quê?

- Pra não espantar os vizinhos.

- Não vou mais comer, Brigite. Snif!

- Ah, vai sim.

- Quero morrer de inanição... Snif! (de novo)

- É, vai ficar bonita no caixão e o cara nem vem para o seu enterro.

- O que você quer que eu faça, Brigite? Pare de sofre de uma hora para outra?

- Sofra, mas tome banho. Ninguém aguenta consolar gente fedida! Sofra, mas penteie o cabelo, ninguém gosta de alma penada. Sofra, mas como. Ele não vai voltar por causa do seu jejum e anorexia está fora de moda.

- Insensível!

- Não senhora. Ponderada.

- Eu devia ter chamado a Dona Chiquinha. Ela me entende.

- Ah, é verdade. Vocês iriam se entender muito bem. Você falando do asqueroso do Alcibíades e a Dona Chiquinha enxovalhando a memória do podre do Seu Manoel. Desse jeito, o espírito do coitado não descansa, Marina.

- Ai, eu vou ter um “troço”, Brigite!

- Não vai não.

- Será que dor de amor provoca infarto, Brigite? (o snif voltou...)

- Só nos mentalmente comprometidos e, a julgar pela situação de sua cozinha, você se encaixa nessa categoria.

- Não consigo deixar de sentir o perfume dele. (Snif!)

- Ele usava “Avanço”, criatura! Acorde!

- E aqueles olhos lindos!

- Castanhos, Marina. 70% dos brasileiros tem olhos castanhos.

- Aquele gigante nórdico!

- 1,68 no pau da viola, Marina. Você nem podia usar salto alto. Tá delirando, mulher?

- Você não vê com o coração!

- Graças a Deus. Seu coração tá míope.

- É muito amor, Brigite. Não cabe em meu coração! (mais snif!)

- Eu sei, querida! (tentando ser sensível)

- Não seja irônica, Brigite.

- Tá vendo, quando eu tento ser sensível, você não acredita!

- O que vou fazer, Brigite?

- Uma novena.

- É, acho que rezar faz bem. (sem isnif!)

- Não. É uma novena especial.

- Como assim?

- Na primeira semana você chora três vezes ao dia, come pouco para perder uns quilinhos e fica no escuro, mas tem que tomar banho e limpar a casa; na segunda semana, pode continuar sofrendo, mas diminui o número de vezes que chora, duas por dia apenas. Nessa semana é bom começar a comer porque dor de amor não dá licença no trabalho; nas próximas semanas é só diminuir as “choradas” e voltar a viver na luz. Tenho certeza que em nove semanas, você estará curada.

- Sua insensibilidade não tem limites, Brigite.

- E nem minha amizade por você, Marina. Fique fria, minha amiga, ainda vamos rir muito de tudo isso, inclusive de você, da Dona Chiquinha e do imprestável do Alcibíades.

Marina chorou na primeira semana, na segunda chorou menos, na terceira voltou para a luz, na quarta comprou uma roupa nova, na quinta passou batom, na sexta limpou a casa, na qual eu já não entrava como forma de protesto, na sétima deu conselhos a Dona Chiquinha, na oitava se olhou no espelho e na nona se olhou novamente no espelho e concluiu, vencedora, que era uma linda mulher!

FIM!