Capítulo
2 – A Fênix
Todo grande poder
gera grande responsabilidade. Essa máxima já é muito conhecida e foi exatamente
isso que não aconteceu em nosso mundo. O deveria ter sido a cura para muitas
doenças e a salvação para muitas pessoas, tornou-se moeda de troca entre as
potências mundiais. Juntando-se a isso, pessoas com pouco ou nenhum escrúpulo,
foi fácil chegar ao fim.
Havia, entre a junta internacional de cientistas que
controlavam a nanotecnologia, bons homens que realmente pensavam na humanidade,
mas também existiam entre eles homens de política e de finanças que não
pensavam em gente, apenas em poder.
Eles tomaram o controle das pesquisas e afastaram os bons
homens, deixando as descobertas em poder de verdadeiros psicopatas da ciência,
“deuses” ensandecidos pelo poder.
Esses “deuses” ainda existem e depois de 25 anos do
desastre ainda perseguem os bons homens e tentam comandar essa selva de medo e
destroços. Eles se dizem o “governo da reconstrução” e utilizam armamentos
pesados para caçar pessoas, pois sabem que nem todos compartilham de suas
idéias.
Mais perigoso do que as plantas e os animais que se
tronaram monstros, são eles, o governo da reconstrução, que se auto-intitula
“Fênix”.
Há milícias e pequenos exércitos por todos os cantos do
mundo. Eles não se escondem como nós, eles caçam e procuram sem parar os
primeiros cientistas que foram expulsos do projeto logo após as descobertas que
fizeram brilhar a ganância dos governantes. Meu pai era um deles e minha mãe,
antes de morrer, me contou que ele lutou para que o mundo não acabasse da
maneira como acabou, mas não conseguiu e desapareceu.
Quando o sol se apagou e o caos tomou conta do mundo, minha
mãe, grávida, fugiu da base onde meu pai trabalhava, a pedido dele. Eu nasci
numa casa simples, no interior do país e minha mãe morreu alguns meses depois,
vítima de uma das doenças que mataria milhões nos próximos anos.
Fui criado por uma empregada da casa e que hoje considero
também minha mãe. Ela ainda deve estar naquela mesma casa, mas não tenho
coragem de voltar...
Estou com fome. Vou sair para procurar comida. Há três dias
estou “morando” neste bar, no que seria o subúrbio da cidade. Durmo em cima da
mesa de bilhar e por incrível que pareça ainda tem refrigerante na máquina.
Depois do eclipse houve o caos e depois do caos, o homem
começou a se adaptar com a nova situação. Como sempre, as diferenças econômicas
se acentuaram. Como não existia energia solar, toda a agricultura foi
comprometida e isso causou escassez de comida nas grandes cidades. As hidrelétricas
também foram comprometidas e a energia começou a faltar. Na natureza, a ausência do sol desencadeou
uma confusão e o controle biológico entrou em colapso. Faltavam pássaros e
sobravam minhocas e assim por diante.
Como em toda sociedade capitalista, quem tinha mais
dinheiro conseguiu um lugar “ao sol” e quem não tinha morreu lentamente faminto
e doente.
Os pobres que sobreviveram se tornaram guerreiros, pois só
assim era possível permanecer vivo. Alguns se tornaram uma espécie de Hobin
Wood do caos, roubando dos ricos e dando aos pobres até serem pegos e mortos
pelas milícias que “defendiam os direitos da sociedade ressurgida”. Já decorei
o discurso que é veiculado pela emissora estatal.
Eu decidi viver sozinho porque não confio em mim mesmo,
aliás, não me conheço totalmente e isso me assusta.
Vou procurar comida agora. Vesti a mesma jaqueta que uso há
vários dias. O último banho que tomei foi no chafariz da praça, há uns três
dias. Hoje o “dia” está especialmente escuro. De vez em quando, aparecem no céu
alguns feixes de luz. Parece que o sol está tentando se descobriu e nessas
ocasiões o dia fica mais claro, como se estivesse amanhecendo o tempo todo, mas
isso acontece muito pouco.
O bar onde estou morando atualmente fica no final de uma
ruazinha, bem escondido. Como em todo o resto da cidade, há muita sujeira e
vegetação alta e quando venta a poeira escura encobre tudo.
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