sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Verdades e Mentiras sobre a vida: crônica irreais vividas por Brigite

Nosso passado é parte de nossa vida, mas ainda assim é passado, mas quem já não chorou de saudades de algo que não volta mais?

Os brincos de Brigite

Sou uma mulher de muitas vidas e eventualmente acredito saber organizá-las. Então, um dia desses resolvi fazer uma faxina em casa. Retirei aquelas caixas velhas, fechadas e amarradas com barbante, de cima do guarda roupa e comecei a separar o que poderia ou não ser descartado.

Não consegui me desfazer de muita coisa, pois quase tudo parecia guardar um segredo meu. Na tentativa de esvaziar ao menos uma caixa encontrei uma outra caixinha, de presente, e dentro dela um par de brincos de pressão, daquele que apertam a parte molinha da orelha. Eu gostava muito desses brincos e costumava usá-los com uma roupa bem colorida e alegre. Mesmo assim tentei descartar os brincos, colocando-os no cesto de lixo.

Enquanto tentava manter a decisão firme de jogar os velhos brincos lembrei-me do dia em que os ganhei. Eles vieram acompanhados de um presente especial, aliás, os brincos fizeram parte de um dos momentos mais eróticos de minha vida e o mais engraçado é que não cheguei nem perto de sexo nesse dia.

Um rapaz, um amor de juventude, havia feito uma aposta comigo e disse que me daria um presente se eu ganhasse a tal aposta. Eu ganhei e ele me deu uma caixinha, aquela caixinha de presente, e dentro dela havia o par de brincos e uma calcinha, muito, muito pequena.

Nunca fui exatamente tímida e recebi a caixinha com espanto, mas muito orgulhosa. A renda branca e as tirinhas de seda da calcinha formavam um coração dentro da caixinha e no cantinho estavam os brincos. Agradeci meu amor juvenil, é claro, com um beijo terno e apaixonado. Namoramos mais um pouquinho e fui para casa.

Estava muito ansiosa para provar aquela peça que me tiraria da adolescência e me elevaria ao status de mulher. Tão linda a calcinha! Cheguei ao meu quarto e acendi apenas a luz do abajur que ficava ao lado do espelho grande de meu quarto. Abri a caixinha, coloquei os brincos e a calcinha branca. Olhei-me no espelho e me achei a mulher mais linda do mundo. Ainda era muito magrinha e quase não tinha seios, mas as poucas curvas que meu corpo de menina tinha saltaram de dentro da calcinha. Naquele dia, de brincos e de calcinha branca, me senti a mais sexy das mulheres, sozinha e na penumbra de meu quarto de menina.

Voltei ao mundo real, sentada na beirada da cama, arrumando as velhas caixas. Percebi que meu rosto estava molhado e que havia chorado durante o devaneio. Enxuguei as lágrimas e continuei a mexer nos papéis amarelados pelo tempo. Lembrei-me de uma fotografia onde os brincos apareciam – a calcinha não.

Lembrei-me também de alguns momentos nos quais usei os brincos. A missa de domingo, onde os brincos acompanhavam a roupa colorida ou uma blusinha branca, com jeans; o baile de formatura, no qual eu usei um vestido cor de rosa e batom da mesma cor, lógico. Os brincos também estavam lá, junto ao meu ouvido.

Retirei os brincos do lixo e os coloquei no criado mudo, ao meu lado. Continuei rasgando alguns papéis velhos. De repente, caíram em minhas mãos algumas cartas antigas. Eram inocentes e adocicadas. Meu primeiro amor. Muitas lágrimas. Chorávamos muito... De ciúme... De saudade... De amor...

Abri alguns envelopes e li as cartas amareladas. As letras se alteravam de acordo com o tema de cada carta. Uma declaração de amor, um pedido desesperado de perdão, uma culpa confessada...

Na última das cartas havia uma fotografia. A festa de aniversário na qual eu havia usado pela primeira vez meus brincos de pressão e a calcinha branca, com rendas e fitinhas. Os brincos estavam ali olhando para mim.

Olhei para os brincos ali do meu lado esperando pelo destino que eu lhes daria. Choramos juntos, eu e os brincos.

Naquele final de semana comprei uma roupa colorida e uma calcinha branca. Saímos juntos, eu, minhas lembranças e meus brincos de pressão.

4 comentários:

  1. Pura nostalgia! Quem não sofre, chora, ri, ao tentar limpar gavetas, armários e a própria vida?"!

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  2. Pois é, amiga, todos nós temos momentos assim, não é? Beijos! Obrigada pela visita. Volte sempre!:)

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  3. Momentos de reviver, rever ou reinventar o que passou pode ser uma terapia(alegre e dolorosa!!)para sermos melhores ou menos piores no presente. De qualquer forma, algumas recordações materiais e imateriais quase saltaram das minhas gavetas e do meu coração ao ler esta crônica.Bjs.

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  4. Oi Madrinha querida.
    Por um momento eu consegui viajar junto com "Os brincos de Brigite", os meninos que nos perdoem mas, essa é uma característica nossa, meninas, românticas e sonhadoras.
    Adorei...
    Beijos

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