domingo, 22 de janeiro de 2012

Verdades e mentiras sobre a vida: crônicas irreais vividas por Brigite

Brigite percebe que “há algo de podre no reino da Dinamarca”

Informações importantíssimas para o entendimento da crônica.

Contexto da crônica: estranho período da História da humanidade no qual se detectou, em grandes grupos populacionais, surtos psicóticos associados a programas televisivos e celebridades instantâneas.
T-Virus: vírus que transforma as pessoas em zumbis, desenvolvido pela Umbrela, no filme “Resident Evil”.
Gotham City: cidade natal do Batman, do Coringa e de outros vilões legais.
Skynet: Inteligência Artificial que se rebelou contra seu criador (o homem), no filme “O Exterminador do Futuro”.
Matrix: programa de computador que transformou o homem em pilha, no filme “Matrix”.
Jean-Paul Sartre: filósofo francês que escreveu "O ser e o nada!". Um trocadilho infeliz, mas bem intencionado!
“Let life take me...”: é só jogar no tradutor do Google, não seja preguiçoso (a).
“Há algo de podre no reino da Dinamarca”: Frase angustiada do angustiado Hamlet.
Freddy Krueger: Aquele cara que fez você perder o sono quando era pequeno, no filme “A hora do pesadelo”.
SOPA: O Stop Online Piracy Act (em tradução livre, Lei de Combate à Pirataria Online) é um projeto de Lei que amplia os meios legais para que os detentores de direitos autorais possam combater o trafico online de propriedades protegidas. Tema profundamente controverso.

Vamos ao surto de Brigite.

Talvez seja o T-Virus ou alguma toxina colocada na rede de abastecimento de água, como aconteceu em Gotham City. Algo estranho está acontecendo com a humanidade. Pára tudo que eu quero descer!
O pânico começou quando entrei de férias e não pude viajar. Tudo bem! Vamos assistir a um bom filme na televisão, ler um bom livro e conversar com os colegas na Internet. É divertido, não é mesmo? No final do dia, posso caminhar no parque e comer um sanduiche (ligth, é claro!) na Panificadora da Dona Rita. Simples!
Não. Não é simples. A TV desenvolveu vontade própria. Uma inteligência artificial que não me deixa escolher a programação. Talvez seja a Skynet! Ou então a Matrix! Não tenho certeza, mas por mais que eu tente mudar os canais da TV aberta, os assuntos são sempre os mesmos. Parece haver também algum problema com o tempo, pois o mundo parou para falar de “nada”. Sartre ficaria impressionado!
Não sei exatamente se a Europa já quebrou ou se conseguiram dar um fim à miséria e à fome na África. Lembro-me também de muitos escândalos na política brasileira e de muita corrupção, mas isso deve ter acabado, pois ninguém mais quer saber disso.
Será que fomos abduzidos? O mundo acabou e não me avisaram? Afinal de contas, estamos em 2012. Se o mundo não acabou, acredito que agora faço parte de uma raça de pessoas profundamente circunstanciais. Algo assim como “Let life take me...”
A vida alheia em seus detalhes mais sórdidos ganhou as páginas dos jornais impressos, sites, programas televisivos e toma conta também das rodas de conversa, das linhas telefônicas e das redes sociais.
Em pé, no centro de minha sala, entre a televisão e o computador tento não me sentir um ratinho de laboratório, correndo sem sair do lugar. Por outro lado, penso: “Se minha unha encravar e eu tiver sorte alguém vai filmar e quem sabe eu me torne uma celebridade. Posso até fazer propaganda de esmalte. É isso mesmo!”
E o que importa a crise na Europa e a fome na África. Legal mesmo é curtir o banal, o fútil. Bom mesmo é apreciar o que a vida tem de mais bizarro e mal cheiroso. Aliás, “há algo de podre no reino da Dinamarca”, mas nós já nos acostumamos ao cheiro.
Opto por dormir. Arrumo a cama e, antes do sonho, retomo Julio Verne. Alguns minutos na vida normal, mas aos poucos o sono me pega e acabo sonhando com a televisão. Ela é um monstro enorme que expele muitos filhotinhos. No sonho, sou forçada a assistir ao mesmo programa noite e dia sem parar, sem conseguir fechar os olhos. Quando consigo fugir da televisão dou de cara com o computador e as mesmas manchetes em todos os portais. Corro muito, mas sempre acabo entre a televisão e o computador que, em meu sonho, já foi censurado pela SOPA.
Acordo sobressaltada e aflita. Lembro então dos pesadelos da infância e digo a mim mesma: Pois é, Brigite, éramos felizes e não sabíamos!
Ah! Que saudades do Freddy Krueger!

5 comentários:

  1. Marta!! Acho que estamos à um passo de surtamos eletronicamente como a Brigite, que a sanidade não nos abandone sem percebermos, não é?! rsrs

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  2. Pois é, amiga, e quem resolve reclamar (o jornalista) teve a seguinte resposta: Cale a boca. Acho que mudaram a brincadeira e não nos avisaram...bj

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Madrinha...
    Gosto da sua sutileza ao escrever, isso faz com que o leitor aprecie seus textos com mais atenção, sua maneira de lidar com a realidade e com a ficção (criticando ou não)é fantástica.
    Beijão

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    1. Não sei se mereço tanto, afilhada, mas agradeço sempre. bjs

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