sexta-feira, 29 de março de 2013

Aurora Cibernética - O acampamento - Capítulo 8



Capítulo 8 – O acampamento

          O acampamento ficava num vale entre duas montanhas. Esqueletos de grandes árvores que pareciam formar, antes do eclipse, uma grande floresta escondiam parcialmente as pequenas habitações. O resto, as sobras do crepúsculo e da noite eterna ocultavam.
          Pouca luz saía das casas que eram feitas de um material trançado, análogo ao bambu. As paredes eram finas, mas pareciam resistentes. O lugar era bem maior do que eu podia imaginar antes de descer a montanha.
          O céu vermelho escuro indicava o começo do dia – se é que se pode chamar aquilo de dia. Com a pouca luz que passava pelo “nuvem negra” verifiquei que o acampamento deveria ter mais de cem casas construídas de forma artesanal, mas organizadamente.
          Não havia nenhuma diferença de tamanho, material ou cor, e as casas eram ligadas entre si por um cano branco sobre o qual perguntei a Gabriel:
          - Para que servem esses canos brancos, Gabriel?
          - É um sistema de comunicação. Todas as casas estão ligadas e as pessoas podem alertar umas as outras sobre alguma invasão ou outro perigo qualquer.
          - Mas por que não usam celulares ou rádios? Percebo que vocês devem ter essas tecnologias.
          - E temos, mas a Fênix rastreia as ondas se utilizadas em alta escala, então usamos algumas unidades por vez e quando necessário para falar com a MÃE.
          - MÃE? Sua mãe? Perguntei confuso.
          - Não Sebastian. Minha mãe está morta. Mas isso é outra história. Vamos, continue a andar.
          Continuei observando o lugar enquanto caminhávamos e verifiquei que havia uma rede de energia. Deveria ser um gerador próprio, pois energia era coisa rara e cara. Um luxo para poucos. A maioria da população que havia sobrevivido até então vivia do fogo, como bárbaros.
          Havia também, a cada conjunto de casas uma caixa grande e transparente que armazenava água. A organização era realmente impressionante.
          Na porta de cada casa havia uma placa que continha várias informações, entre elas o número de moradores, os nomes e as idades.
          Os corredores que separavam as pequenas habitações eram estreitos, mas no centro do aglomerado havia uma espécie de praça, um espaço maior e vazio, onde provavelmente aconteciam as reuniões.
          Passamos por aquele espaço e rumamos para uma das últimas casas do acampamento.
          - Entrem. Convidou Helena.
          O que vi foi surpreendente e emocionante. O primeiro cômodo era carinhosamente decorado com móveis artesanais que imitavam os móveis de uma casa comum, de nosso mundo antes do eclipse. Era como se eu, literalmente, tivesse entrado num túnel do tempo.
          Vasos com flores – de plástico – quadros e até fotografias em porta-retratos; almofadas e enfeites alegravam um ambiente quase impossível. Fiquei atônito.
          - O que foi, Sebastian? Gabriel perguntou.
          - Nada. É que esta casa... Ela parece tão familiar...Eu não esperava encontrar nada parecido com isso, eu...Gaguejei.
          - Eu sei, rapaz. Parece um desperdício, uma contradição, não é mesmo? Manter um ambiente assim num mundo escuro e perverso como este, mas nós temos filhos, Sebastian e eles não pediram para viver num mundo infeliz e cruel.
          - Perdoe a minha franqueza, mas por que decidiram ter filhos?
          Gabriel sentou-se em sua “poltrona do papai” e Iago veio sentar-se em seu colo.
          - Sente-se. Vou lhe contar algumas histórias.
          Sentei-me em frente aquele homem que eu já começava a admirar e escutei.
          - Quando eu e Helena nos conhecemos o mundo já era este, mas nós sonhávamos com uma família. Decidimos então que teríamos filhos porque acreditamos que este estado de coisas não é permanente e que nossos filhos ainda verão o sol brilhar com todo o seu esplendor.
          Helena sofreu muito e quase morreu quando Iago nasceu, mas nunca nos arrependemos e por isso continuamos lutando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário