sábado, 9 de março de 2013

Aurora Cibernética - Um cyborg que não deu certo - capítulo 5



Capítulo 5 – Um cyborg que não deu certo

          Depois de minha descontrolada atitude de rebeldia na sala do General, fui detido e levado a uma prisão que fica há cerca de 30 km da central Fênix. Eu já ouvira falar do lugar, mas naquele momento minha dor e meu desespero eram tão grandes que pouco importava meu destino. 
          Viajei amarrado e deitado no chão de uma vã que levava mais dois prisioneiros. Como havia apanhado, o gosto de sangue era o único em minha boca que estava também amordaçada. Durante o caminho acabei desmaiando e só acordei quando fui jogado na sela, onde passei quase uma semana incomunicável.
          Eu recebia comida e água, mas uma água diferente, esverdeada. Percebi que havia algo mais no líquido, mas como não havia mais nada para beber fui obrigado a tomá-la. Depois de uma semana, comecei a ficar letárgico . Percebi que havia algo errado, mas não pude fazer nada.
          Fui levado então para uma sala e em poucos minutos fui completamente sedado. Não vi mais nada e quando acordei, estava diferente, mas não sabia exatamente o que havia acontecido. Tentei levantar-me da cama e me senti pesado, fiz um esforço maior e consegui me sentar. Levantei-me e vi que havia uma ficha pendurada ao pé da cama. Cheguei até lá e li o que seria o maior choque de minha vida.

Ficha de Acompanhamento Projeto “Ecce Homo”
Nome de origem:
Sebastian Caldwin
Idade biológica
18 anos
Nome atual:
T127
Categoria:
Cyborg classe 3 – combate e estratégias de guerra
Partes mecânicas
As duas pernas, o braço direito e a parte esquerda da cabeça, incluindo o olho esquerdo e parte da massa cefálica, com inserção de chips de melhoramento físico, mental e intelectual.
Médico responsável:
Benjamim Isávolo
Data da cirurgia de adaptação:
21 de janeiro de 2048
Observações:


          Ainda em choque, caminhei lentamente até o banheiro e me olhei no espelho. Aparentemente eu era o mesmo, exceto a luz vermelha que ás vezes era possível ver no fundo de meu olho esquerdo. Do lado da pia havia uma caneca de ferro onde havia uma pasta e uma escova de dentes. Peguei a caneca com minha mão direita e a amassei como se fosse papel. Um monstro. Haviam me transformado na droga de um monstro.
          Atordoado, voltei para o quarto e encontrei um médico parado a minha espera.
          - Olá, Sebastian!
          - O que vocês fizeram comigo? Perguntei louco de terror.
          - Acalme-se. Vou contar tudo que você deseja saber.
          - Sou um monstro, um monstro. Por que você fez isso comigo? Perguntei desesperado.
          - Era isso ou a morte, Sebastian. Você conhece a política do Governo. Quem não presta é descartado. Depois de seu surto na sala do General Garcia, a ordem era fazê-lo “descansar”, mas eu sugeri a cirurgia, alegando que poderia controlá-lo mentalmente.
          - Como assim? Por que fez isso por mim?
          - Não fiz apenas por você, Sebastian. Fiz por seu pai.
          - Meu pai, você conhece meu pai? - Perguntei perplexo. - Onde ele está? Diga.
          - Não sei, Sebastian. Seu pai desapareceu um pouco depois da nanotragédia. Alguns acham que ele fugiu porque não concordava com os rumos que a pesquisa havia tomado; outros acham que ele foi morto.
          - De qualquer forma, Sebastian. Precisamos pensar numa maneira de tirá-lo daqui, mas antes preciso explicar o que aconteceu com você.
          Ele sentou-se ao meu lado, num pequeno sofá que estava perto da cama.
          - Escute, Sebastian. Você foi transformado num cyborg classe 3. Esse modelo tem as duas penas e o braço direito mecânicos. Isso lhe dá a força de mais ou menos vinte homens. Na parte esquerda de sua cabeça foram implantados alguns chips de conhecimento, tais como conhecimentos gerais, física nuclear, biologia, entre outros; e alguns chips de habilidades, entre elas primeiros socorros, práticas de combate e artes marciais, ou seja, você é um soldado completo.
          - Mas de que isso serve à Fênix, se eu me rebelei contra eles?
          - É aí que eu entro, Sebastian. Você acredita mesmo que os milhares de homens que se tornaram cyborgs fizeram por vontade própria? Não, Sebastian. Alguns sim procuraram a Fênix e se ofereceram, mas a maioria foi forçada e nesses  nós implantamos um outro chip chamado “Contrl FX”, ou seja, um mecanismo de controle que permite gerenciar atitudes, pensamentos e até sensações, caso seja necessário.
          - Você implantou isso em mim?
          - Preste atenção, Sebastian. O trabalho foi feito por uma junta médica e eu precisava implantar um chip com esse nome em sua cabeça, mas não se preocupe, o chip que eu implantei estava vazio, sem informação nenhuma. - Sussurrou – Ele continuará emitindo um sinal ativo, mas não será possível controlar você. Fique tranquilo.
          - Eles poderão me rastrear, então?
          - Sim, poderão, mas há uma solução para isso. - pegou uma caixa e me entregou. - Aqui dentro, há uma mascará, ela é feita de um tecido frio e recoberto com chumbo. Serve para sobreviver em regiões muito quentes e evitar alguns efeitos da radioatividade. Ela pode inibir o sinal do chip. Eu sei que não será muito fácil viver com a máscara, mas é o que pude fazer. Espero que ajude.
          - Obrigado, Doutor. Você salvou minha vida.
          - Eu devia isso ao Adrian.
          - Mas, Doutor, quando eles descobrirem que o chip não funciona em mim, virão atrás de você. Argumentei.
          - Não se preocupe, Sebastian. Já fiz o que podia para ajudar este mundo e não tenho medo de mais nada. Vamos arrumar um jeito de tirá-lo daqui.
          O Doutor Isávolo conseguiu uma roupa de médico e me guiou por uma saída de emergência no prédio do hospital. Já no pátio da prisão consegui chegar ao muro. Fiquei em pânico, me achando sem saída, pois o muro era muito alto. Lembrei-me, então, de que eu não era mais um homem comum, era um cyborg Classe 3 e meu nome era T127. Pulei o muro e fugi.
         

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