Capítulo 5 – Um cyborg que
não deu certo
Depois de minha descontrolada atitude de rebeldia na sala
do General, fui detido e levado a uma prisão que fica há cerca de 30 km da central
Fênix. Eu já ouvira falar do lugar, mas naquele momento minha dor e meu
desespero eram tão grandes que pouco importava meu destino.
Viajei amarrado e deitado no chão de uma vã que levava mais
dois prisioneiros. Como havia apanhado, o gosto de sangue era o único em minha
boca que estava também amordaçada. Durante o caminho acabei desmaiando e só
acordei quando fui jogado na sela, onde passei quase uma semana incomunicável.
Eu recebia comida e água, mas uma água diferente,
esverdeada. Percebi que havia algo mais no líquido, mas como não havia mais
nada para beber fui obrigado a tomá-la. Depois de uma semana, comecei a ficar
letárgico . Percebi que havia algo errado, mas não pude fazer nada.
Fui levado então para uma sala e em poucos minutos fui completamente
sedado. Não vi mais nada e quando acordei, estava diferente, mas não sabia
exatamente o que havia acontecido. Tentei levantar-me da cama e me senti
pesado, fiz um esforço maior e consegui me sentar. Levantei-me e vi que havia
uma ficha pendurada ao pé da cama. Cheguei até lá e li o que seria o maior
choque de minha vida.
Ficha de Acompanhamento Projeto
“Ecce Homo”
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Nome de origem:
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Sebastian Caldwin
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Idade biológica
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18 anos
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Nome atual:
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T127
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Categoria:
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Cyborg classe 3 – combate e
estratégias de guerra
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Partes mecânicas
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As duas pernas, o braço direito e a
parte esquerda da cabeça, incluindo o olho esquerdo e parte da massa
cefálica, com inserção de chips de melhoramento físico, mental e
intelectual.
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Médico responsável:
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Benjamim Isávolo
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Data da cirurgia de adaptação:
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21 de janeiro de 2048
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Observações:
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Ainda em choque, caminhei lentamente até o banheiro e me
olhei no espelho. Aparentemente eu era o mesmo, exceto a luz vermelha que ás
vezes era possível ver no fundo de meu olho esquerdo. Do lado da pia havia uma
caneca de ferro onde havia uma pasta e uma escova de dentes. Peguei a caneca
com minha mão direita e a amassei como se fosse papel. Um monstro. Haviam me
transformado na droga de um monstro.
Atordoado, voltei para o quarto e encontrei um médico
parado a minha espera.
- Olá, Sebastian!
- O que vocês fizeram comigo? Perguntei louco de terror.
- Acalme-se. Vou contar tudo que você deseja saber.
- Sou um monstro, um monstro. Por que você fez isso comigo?
Perguntei desesperado.
- Era isso ou a morte, Sebastian. Você conhece a política
do Governo. Quem não presta é descartado. Depois de seu surto na sala do
General Garcia, a ordem era fazê-lo “descansar”, mas eu sugeri a cirurgia,
alegando que poderia controlá-lo mentalmente.
- Como assim? Por que fez isso por mim?
- Não fiz apenas por você, Sebastian. Fiz por seu pai.
- Meu pai, você conhece meu pai? - Perguntei perplexo. -
Onde ele está? Diga.
- Não sei, Sebastian. Seu pai desapareceu um pouco depois
da nanotragédia. Alguns acham que ele
fugiu porque não concordava com os rumos que a pesquisa havia tomado; outros
acham que ele foi morto.
- De qualquer forma, Sebastian. Precisamos pensar numa
maneira de tirá-lo daqui, mas antes preciso explicar o que aconteceu com você.
Ele sentou-se ao meu lado, num pequeno sofá que estava
perto da cama.
- Escute, Sebastian. Você foi transformado num cyborg classe 3. Esse modelo tem as duas
penas e o braço direito mecânicos. Isso lhe dá a força de mais ou menos vinte
homens. Na parte esquerda de sua cabeça foram implantados alguns chips
de conhecimento, tais como conhecimentos gerais, física nuclear, biologia,
entre outros; e alguns chips de
habilidades, entre elas primeiros socorros, práticas de combate e artes
marciais, ou seja, você é um soldado completo.
- Mas de que isso serve à Fênix, se eu me rebelei contra
eles?
- É aí que eu entro, Sebastian. Você acredita mesmo que os
milhares de homens que se tornaram cyborgs
fizeram por vontade própria? Não, Sebastian. Alguns sim procuraram a Fênix e se
ofereceram, mas a maioria foi forçada e nesses
nós implantamos um outro chip
chamado “Contrl FX”, ou seja, um mecanismo de controle que permite gerenciar
atitudes, pensamentos e até sensações, caso seja necessário.
- Você implantou isso em mim?
- Preste atenção, Sebastian. O trabalho foi feito por uma
junta médica e eu precisava implantar um chip com esse nome em sua
cabeça, mas não se preocupe, o chip que eu implantei estava vazio, sem
informação nenhuma. - Sussurrou – Ele continuará emitindo um sinal ativo, mas
não será possível controlar você. Fique tranquilo.
- Eles poderão me rastrear, então?
- Sim, poderão, mas há uma solução para isso. - pegou uma
caixa e me entregou. - Aqui dentro, há uma mascará, ela é feita de um tecido
frio e recoberto com chumbo. Serve para sobreviver em regiões muito quentes e
evitar alguns efeitos da radioatividade. Ela pode inibir o sinal do chip. Eu
sei que não será muito fácil viver com a máscara, mas é o que pude fazer.
Espero que ajude.
- Obrigado, Doutor. Você salvou minha vida.
- Eu devia isso ao Adrian.
- Mas, Doutor, quando eles descobrirem que o chip
não funciona em mim, virão atrás de você. Argumentei.
- Não se preocupe, Sebastian. Já fiz o que podia para
ajudar este mundo e não tenho medo de mais nada. Vamos arrumar um jeito de
tirá-lo daqui.
O Doutor Isávolo conseguiu uma roupa de médico e me guiou
por uma saída de emergência no prédio do hospital. Já no pátio da prisão
consegui chegar ao muro. Fiquei em pânico, me achando sem saída, pois o muro
era muito alto. Lembrei-me, então, de que eu não era mais um homem comum, era
um cyborg Classe 3 e meu nome era T127. Pulei o muro e fugi.
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